quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A saga do elevador

Morávamos em Brasília e era época de eleição. Como bons eleitores, papai e mamãe foram ao Tribunal Regional Eleitoral transferir o título. O prédio estava animado. Pessoas entrando e saindo de todos os lugares possíveis, fila para usar os elevadores... Ah, os elevadores!

Preocupada com a segurança dos pimpolhos, mamãe repetia sem parar: “Vamos, crianças! Rápido, senão a porta fecha”. Ela falava, empurrava as crianças e segurava a porta do elevador, tudo ao mesmo tempo! Papai, então, com sua enorme experiência de vida, apressou-se em tranqüilizá-la:

– Tenha, calma! Estes elevadores possuem um moderno sistema de fotocélulas que identifica a pessoa e mantém as portas abertas. Não precisa se preocupar!
– Não confio nessa porcaria. Eu, heim! Pode estar escangalhado.
– Deixa de bobagem! – repreendeu, certo de que estava com a razão – Na volta vou te mostrar como funciona.

A discussão da família foi acompanhada por todos que estavam na máquina elevatória. Quando chegamos, de volta ao térreo, papai esperou que saíssemos do elevador para fazer sua magnífica apresentação em prol da tecnologia. Apertou um botão qualquer – no caso, o último! – e esperou que as portas começassem a se fechar. Nós observávamos tudo do lado de fora, atentos e ansiosos. Enquanto as portas teimavam em fechar, papai agitava as mãos diante do tal sensor de fotocélula, que se mantinha indeferente ao seu apelo gestual. A gargalhada já brotava em nossas bocas, mas queríamos ser solidários. Papai já não tinha mais preparo físico para agitar os braços na entrada do elevador, sua pele ganhou uma coloração avermelhada e, por pouco, sua mão não ficou presa entre as portas. Sim, elas se fecharam definitivamente. Para desespero de papai, que não conseguiu provar sua teoria, e alegria de mamãe, que provou que é melhor prevenir do que remediar.

Selamos o compromisso de manter a integridade e a moral do chefe da família e não rir quando o reencontrássemos. No entanto, quando o elevador parou novamente no térreo e enxergamos a figura de papai lá no fundo, atrás de todas as pessoas – talvez criando coragem para nos encarar – soltamos a gargalhada que estava presa no âmago do nosso ser e rimos até nos faltar o ar. Papai, que não tinha mais o que fazer diante de tal apresentação, engoliu o sapo e juntou-se a nós nas gargalhadas.

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